Acompanhem a Expedição dos Amigos-Aventureiros Higon Hoch(Ténéré 1989), de Joinvile -SC, Orlando Venera(Ténéré 1990), Jaraguá do Sul-SC e André Luiz Pereira(Ténéré 2012) de São José-SC. Estes aventureiros cortaram boa parte da Cordilheira dos Andes, passando por Argentina, Bolívia, Peru e Chile, onde visitaram os lugares menos conhecidos por viajantes, principalmente nos pontos de grandes altitudes, estes motociclistas chegaram a lugares inesquecíveis, de paisagem vislumbrantes e de grande importancia histórica, cultural e geográfica, curta um pouco desta grande aventura, feita por corajosos motociclistas.
EXPEDIÇÃO TRIPARTITO
Depois de muita pesquisa, tracei uma rota
de ida e outra de volta, utilizando, sempre que possível, caminhos pouco
conhecidos pela maioria dos viajantes.
A minha companheira de viagem, mais uma
vez, foi a Ténéré 89. Já são 19 anos de parceria, incluindo aí sete viagens
pela América do Sul. Orlando Venera, de Jaraguá do Sul-SC e sua Ténéré mais
nova, ano 1990, aceitou o desafio, assim como André Luiz Pereira, de São
José-SC, que completou a família Ténéré, com a sua modelo 2012.
Para incrementar ainda mais o projeto, aproveitei meus últimos dias
trabalhando na fundição e confeccionei várias placas de alumínio, com o nome
dos principais objetivos da viagem e a logomarca da expedição. Estas placas
fixamos no local, marcando as respectivas coordenadas no GPS. Coordenadas que
serão publicadas aqui. Assim, quem estiver na região, pode tentar encontrá-las
e registrar o achado. No total, 12 placas foram fixadas.
A saída:
Dia 23 de setembro de 2012, foi a data
escolhida. Seguimos direto para Bolívia, mas antes aproveitamos para conhecer a
Estrada Parque Pantanal Sul, próximo a Corumbá-MS. Em plena seca, centenas de
jacarés se apertavam nas poucas lagoas que restavam, enquanto os peões guiavam
o gado, pela estrada, para lugares com melhor pastagem.
Bolívia:
Na fronteira, um clima de insegurança
pairava no ar. Conseqüência de recentes assaltos a brasileiros, incluindo motociclistas,
mas não verificamos nada disso.
A brincadeira mesmo começou na Ruta-4, que
é a estrada mais antiga entre Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba. Um caminho de serra, que marca o início da
Cordilheira dos Andes. Iniciamos ali
também, os testes práticos das nossas habilidades off-road, ao visitar lugares como, "Los Volcanes",
montanhas de arenito que lembram vulcões, escondidas num vale de mata
preservada, dentro do Parque Nacional
Amboró. As ruínas de "El Fuerte de
Samaipata", próximo a cidade de mesmo nome. Ao sul de Cochabamba,
visitamos o Parque Nacional Toro Toro. Cânions, cavernas, a incrível
"Ciudad de Itas", cachoeiras e muitas pegadas de dinossauros, são
alguns dos atrativos da região. Um caminho todo pavimentado com pedras
redondas, fixadas como paralelepípedos, com mais de 100km de extensão, nos
levou até a cidade de Toro Toro. Ali
contratamos um guia, para visitar a região. No mínimo 2 dias são necessários
para conhecer todo o parque.
Cordilheira Tunari:
A partir de Cochabamba, que está a 2.500m
do nível do mar, o nosso roteiro seguiria somente por altitudes ainda maiores.
Hora de ajustar a carburação das velhas Ténérés. Mudamos os giclês, por menores e baixamos
totalmente as agulhas.
Cochabamba sumia, entre montanhas de pura rocha, enquanto atingíamos
cada vez mais altura, nas encostas da Cordilheira Tunari. O caminho, também
pavimentado com pedras redondas, nos levou até os 4.485m de altitude. Ali
também, a "Expedição Tripartito", alcançou seu primeiro objetivo, gravado
em placa de alumínio. Fixamos a placa "Tunari", numa rocha ao lado da
estrada, com as devidas coordenadas registradas no GPS. Gostamos da
brincadeira, pois saímos dali decididos a chegar no próximo objetivo, ou a
segunda placa.
As motos se comportaram muito bem na
altitude, motor funcionando normal, sem falhas. A 660 então, sem comentários, tudo perfeito. Ao
final de dois dias, passamos Morochata, Independência, cruzamos o Rio
Sakambaya, para chegar em Inquisivi e finalmente em Quime, onde abastecemos.
Média de 20km/l para Ténéré do André e do Venera, a minha ficou em 18km/l.
Excelente, considerando as condições do caminho.
Cordilheira Quimsa Cruz
A nossa próxima Cordilheira, Quimsa Cruz,
apresenta altitudes ainda maiores,
vários picos nevados, lagunas e
geleiras da era glacial. Iniciamos a "escalada" em estrada asfaltada,
mas por poucos quilômetros, pois logo desviamos em direção a Mina Viloco.
Novamente um caminho sinuoso, de rípio, onde a cada curva, montanhas cobertas
de neve surgiam a nossa frente. Impossível não parar para fotografar,
principalmente quando começaram a surgir as lagunas verdes ou azuis, de águas
cristalinas, completando um cenário perfeito de montanha.
O caminho atinge a altitude máxima, 5.145m,
hora de fixar a segunda placa, "Quimsa Cruz" , ao lado da estrada.
Também deixamos ali uma garrafinha de cachaça brasileira. É só ir lá provar e
curtir o visual! Nós continuamos, curtindo o visual do Cerro Gigante, enquanto
contornávamos uma laguna, para voltar a descer até os 1.750m do Rio La Paz.
Clima árido e temperatura inversamente proporcional a altitude, em torno dos
35°C. Mas foi por pouco tempo, na outra margem voltamos a subir em direção a
Cohoni.
Povoado de montanha, onde a linguagem usada
entre eles, é o Aymara. Hotel, pousada ou restaurante não existem ali. Porém,
três estranhos de moto, parados na praça, chamam muito a atenção e logo
juntou-se uma multidão na volta. Conversa daqui, pergunta ali e logo
conseguimos um quarto, numa casa particular. Mais tarde, o proprietário nos
levou a uma venda, onde jantamos, ao som de um violeiro, que já tinha tomado
todas.
Pico Illimani
O povoado de Cohoni está localizado aos pés
do Pico Illimani, uma das montanhas mais altas da Bolívia, com 6.462m de
altitude. Dali também parte um caminho até o acampamento base, que é utilizado
pelos alpinistas. O nosso objetivo era
chegar ali de moto e colocar mais uma placa.
No
princípio, um nevoeiro encobria o cume, mas logo fomos presenteados com um céu
azul, que permitiu toda visualização possível da montanha. Grossas camadas de
neve, entre escarpas de pura rocha, marcam as partes altas do Illimani. Um
caminho difícil, com muita erosão, onde a neve e os riachos congelados,
derretiam com o calor do sol, nos levou até lá. Deixamos a terceira placa,
"Illimani", próximo ao acampamento base e voltamos para Cohoni.
Dali partimos para La Paz, hora do André assumir a dianteira e achar o
caminho no GPS, através daquele trânsito doido. Nada como a tranquilidade das
montanhas, voltamos para elas o mais rápido possível. Dos 4.670m de La Cumbre,
seguimos para os 1.700m, de Coroico, na região dos Yungas.
Cordilheira Real:
Após uma noite de descanso em baixa
altitude, voltamos a subir, através da famosa "Ruta de la Muerte".
Hoje, depois da construção da rodovia nova, praticamente só é utilizada por
turistas. Mas o visual continua o mesmo e uma queda no abismo, também. Várias cruzes ao longo do caminho, lembram da época
em este era o único caminho para Coroico .
Nosso primeiro objetivo na Cordilheira
Real, foi chegar na antiga estação de esqui, no Cerro Chacaltaya, a 5.200m de
altitude. Era a estação mais alta do mundo, mas devido ao aquecimento global,
parou de operar por falta de neve, mesmo
no inverno.
Continuamos avançando entre as montanhas,
rodando por antigas estradas mineiras. O caminho atinge novamente 5.100m de
altitude, com direito a uma vista espetacular, do lado oeste do Cerro Huayna
Potosí e a geleira na sua encosta. A frente, as montanhas do Grupo Condoriri,
formado por vários picos nevados. Além disso, o terreno onde nos encontrávamos,
lembrando dunas, porém sólidas, permitiam passeios para várias direções e novas
descobertas. Pena o dia estar terminando. Sol no horizonte e temperatura em
queda livre, eram os avisos para subir nas motos e descer a montanha. Mas
antes, fixamos a quarta placa, "Real".
Cordilheira Apolobamba:
Pela manhã partimos em direção a
Cordilheira Apolobamba. Localizada ao
norte da Bolívia, é preciso primeiro margear o Lago Titicaca, até próximo da
fronteira com o Peru, mais precisamente, até a cidade de Escoma. Foram mais de 150km curtindo o visual, deste,
que é o lago navegável mais alto do mundo e berço da civilização Inca.
O caminho para Apolobamba, segue
paralelo a fronteira com o Peru, por este motivo é muito vigiado pela polícia.
Em cada entrada de povoado, era preciso mostrar os documentos e responder
algumas perguntas. Apenas burocracia, mas nos tirava preciosos minutos, que
somados, nos atrasaram e, conseqüentemente, não chegamos em Pelechuco, a meta
do dia.
Ficamos
numa vila as margens da Laguna Cololo, a 4.700m de altitude. Com a temperatura
próximo de zero e caindo, o melhor a fazer era encontrar um lugar para nos
abrigar. Digamos que o lugar, em termos
de higiene, era péssimo, mas serviu para nos livrar do frio da noite e naquela
altura do campeonato, era o que importava.
Amanheceu, gelo sobre a moto, sem café, sem
banho, voltamos para estrada. O bom é que o nosso humor estava ótimo e tudo
virava piada. O tempo não melhora, continua fechado, ameaçando nevar e
encobrindo todo o visual das montanhas. Chegamos assim em Pelechuco, última
cidade do Departamento de La Paz. A cultura teve forte influência espanhola,
tanto que uma tourada iria acontecer naquele dia. Aproveitamos o tempo ruim e
ficamos para assistir o espetáculo, na praça central. O estilo é, larguem os
touros e salve-se quem puder! Só pra rir.
No dia seguinte voltamos pelo mesmo caminho
até o alto da Cordilheira Apolobamba. A parada em Pelechuco não foi em vão,
como um presente, o nevoeiro foi dissipando e conseguimos aproveitar toda a
bela paisagem da Cordilheira, o difícil é dizer qual delas é a mais bonita. No
ponto mais alto, entre duas lagunas, deixamos mais uma placa,
"Apolobamba".
La Rinconada
A partir de Suches, cidade mineira, próximo
da fronteira com o Peru, fizemos uma visita rápida ao país vizinho. Entramos
informalmente, pois não há migração por ali.
A intenção era conhecer La Rinconada, a
cidade mais alta do mundo, a 5.400m de altitude. A muitos anos acharam ouro
abaixo das geleiras, na região e, conseqüentemente, todos correram em busca do
metal precioso. Hoje mais de 30 mil pessoas vivem no local, trabalhando em
minas de até 700m de profundidade, em condições sub-humanas, tentando a sorte
grande.
A cidade fica a poucos quilômetros da
fronteira e em menos de uma hora estávamos lá.
Poderia ter sido menos, não fosse a dificuldade de encontrar o caminho
entre uma infinidade de buracos escavados em busca do ouro. A entrada é pelo
lixão, na verdade havia lixo por toda parte, apesar dos avisos pintados nas
paredes dos barracos. "No botar basura, pena, MASACRE!" Será?!?
Depois destas boas vindas, não ficamos
muito tempo, apenas conversamos com alguns mineiros, sobre como era viver ali e
voltamos para Bolívia, deixando mais uma placa da expedição, na entrada da
cidade, "La Rinconada".
De volta ao Lago Titicaca, chegamos em
Puerto Acosta, já a noite. Porém, na
aduana, a triste notícia. Havia aduana sim, mas migração, não. Resumindo,
teríamos que voltar mais 170km, até Copacabana, além dos 180km que já havíamos
voltado. Tudo bem, já contava com esta possibilidade, mas que é chato voltar,
isso é!
Eram 10:30h da manhã quando entramos em
Copacabana, a cidade boliviana melhor estruturada para receber o turista.
Bares, restaurantes, hotéis, artesanatos, turistas de todas as partes do
planeta, ou seja, um mundo totalmente diferente do que havíamos encontrado até
ali. O André e o Venera se juntaram e fizeram um motim, um dia de descanso na
cidade e não se discute. Venceram!! Aproveitamos para comprar alguns
"regalos", para as esposas e descansar, apenas curtindo o lugar.
Cordilheira Vilcanota:
Mas no dia seguinte, a viagem continuou e
finalmente entramos no Peru. Sicuani foi a nossa primeira parada. Perto dali,
em San Pedro, visitamos as ruínas do Templo Inca de Wiracocha. De onde também
parte a estrada para a nossa quinta cordilheira, Vilcanota. Um caminho
tranquilo, passando pelo povoado de Santa Bárbara, nos levou até os 4.900m de
altitude, as margens da Laguna Sibinacocha.
Deixamos a nossa sétima placa,
"Vilcanota", as margens do laguna, tendo os picos Ausangate, Huayruro
Punco e o Nevado Chumpi, a nossa frente e o Campo de Gelo Quelcaya, com mais de
12km de extensão, atrás. Feito isto, voltamos para Sicuani.
Nascente do Amazonas:
O caminho para nascente inclui o Cânion
Suykutambo, formado pelo Rio Apurimac, principal formador do Rio Amazonas. A
estrada corta o cânion de ponta a ponta, são mais de 20km margeando o rio,
entre paredões de rocha, incluindo aí as ruínas Incas de Maukallaqta e Maria
Fortaleza. O ponto mais bonito é o lugar chamado de "Tres Cañones",
onde três cânions se juntam, formando um.
Continuamos subindo o Rio Apurimac, até
tomarmos a esquerda, passando por um divisor de águas. De um lado a água segue
para o Atlântico, é o início da bacia hidrográfica do Amazonas e do outro para
o Pacífico. Seguimos para Chivay para pernoitar, pois a jornada até a nascente
merece um dia completo. Lá conhecemos o Vale do Colca, que é considerado o
cânion mais profundo do mundo. No mirante "Cruz del Condor", presenciamos vários rasantes deste gigante do
ar, o Condor.
O André, ainda sofrendo com a altitude,
ficou em Chivay, enquanto eu e o Venera partimos para a nascente. Rodamos de
moto até as 10:00h, passando inclusive, sobre a primeira ponte do Rio Amazonas. Depois, somente a pé.
Iniciamos a caminhada calmamente, devido a
altitude, 4.700m. Entramos na Quebrada Carhuasanta, a vertente principal, bem
fisicamente. Dali foram mais duas horas, para avistar o paredão de onde verte a
água. A esta altura, a coisa já não ia tão bem. Com 5.000m de altitude, cada
passo é um esforço tremendo e quanto mais perto, mais complicado a coisa
ficava. Quando finalmente avistei a fonte, com mais de 4:00h de caminhada, ela
estava a menos de 100m de distância, mas para superar as pedras no caminho,
foram necessários mais 30 minutos.
Foi emocionante chegar ali, superando as
dificuldades de uma caminhada de 12,5km e os 5.173m de altitude. Estar na
nascente do maior rio do mundo, merecia uma placa da nossa expedição, que foi
devidamente fixada numa pedra. Enchemos o cantil com a água gelada e
cristalina, que surge de uma rachadura na rocha
e nos preparamos para voltar, pois já eram 3:30h da tarde e com uma
nevasca fina no ar, tínhamos que chegar nas motos antes do anoitecer.
Teoricamente a volta é mais rápida, mas o
cansaço era grande, ao ponto de obrigar uma parada a cada 200 ou 300m. Mesmo
assim, chegamos com 4:00h de caminhada, junto com o anoitecer. A temperatura
negativa não abalou o ânimo de montar nas motos e vencer a trilha até Chivay.
Lá o André já estava a ponto de contatar o
Grupo de Salvamento de Montanha, que ficava em frente ao hotel, pois chegamos
perto das 10:00h da noite. Mas eu e o Venera só queríamos comemorar,
conseguimos!!
Tripartito:
Nosso próximo objetivo era o principal,
chegar no Hito Tripartito, entre as fronteiras do Chile, Peru e Bolívia. Voltamos para Bolívia por Desaguadero, de
onde seguimos para San Andres, Santiago de Machaca, Berenguela e Charaña,
cidade próxima a tríplice fronteira.
Pela manhã, o prefeito da localidade veio conversar
conosco. Vocês são os primeiros brasileiros de moto a passarem por aqui, disse
ele. Se é verdade, não sei, o fato é que encheu a gente de orgulho e prometemos
divulgar o lugar no Brasil. O "Tripartito", fica a 12km ao norte dali
e em poucos minutos estávamos lá.
Depois de 23 dias de viagem, ali estava
ele, "um marco de concreto no meio do Altiplano, simples e interessante
como um poste, mas vigiado por três países". Imediatamente colocamos as
motos ao lado dele e tiramos fotos de todos os ângulos, era preciso registrar
aquele momento. Deixamos a placa da expedição nas proximidades e a parte "vigiado
por três países", se confirmou, pois um grupo de militares surgiu, para a
ronda da manhã. Estes também comentaram, que nós éramos os primeiros brasileiros
de moto por aquelas redondezas, até começamos a acreditar.
Parque Nacional Sajama:
Do Tripartito voltamos para Charaña, de
onde seguimos em frente, sentido Parque Nacional Sajama. Ali se encontra o pico
mais alto da Bolívia, o Nevado Sajama, com 6.542m de altitude, além de lagunas,
águas termais e outros vulcões, como o Pomerape e Parinacota, na fronteira com
o Chile. Próximo ao imponente Sajama, deixamos
uma placa em nome de todos os integrantes do "VMAS", (Viagens de Moto
na América do Sul) um grupo de amigos virtuais, que trocam experiências e
adoram viajar de moto. Muitos já se tornaram amigos reais, como eu e o André. A
placa "Espírito VMAS", traduz
esta idéia.
Pernoitamos em Tambo Quemado, fronteira com
o Chile. Naquela noite o André tomou a decisão de descer para Arica. Vários
dias seguidos, sofrendo com o mal da altitude, estavam deixando-o cada vez mais
fraco e como pela frente teríamos estradas com muita areia, ele achou melhor
desistir. Vendo o estado dele, preferi não insistir que continuasse. Iria
seguir pela Pan-Americana, próximo ao nível do mar, para se recuperar.
Salares de Coipasa e Uyuni:
Depois de uma noite gelada, seguimos em
direções opostas, André para o Chile e eu e o Venera pelo altiplano boliviano,
sentido Salar de Coipasa. Utilizamos a Ruta Intersalar que forma o Circuito
Ecoturístico do Rio Lauca. Ali se encontram várias "Chullpas", onde
eram deixados os corpos dos caciques Aymáras.
Em Sabaya conseguimos gasolina para seguir
em frente até a vila de Coipasa. O único problema é que não havia nada lá.
Contamos apenas com a ajuda da Dona Petrolina, que arrumou um quarto para
dormir e também fez a janta e o café da manhã. Uma pessoa super caridosa que
não mediu esforços para nos ajudar.
Após o ótimo café da manhã, entramos no
Salar de Coipasa, são 40km do mais puro sal. Seguimos na direção sul, sem saber onde era a
saída, mas, conforme nos aproximamos da margem, os vários rastros iam se
juntando, até formar um caminho único. Ali deixamos outra placa, "Coipasa".
Um caminho com muita areia nos levou até Llica, passando pelo povoado de
Challacollo ou Punta Arenas. Llica é a porta de entrada, do lado oeste, do
maior salar do mundo, o Salar de Uyuni. Uma verdadeira auto-estrada partia
dali, rumo ao infinito, pois nada era visível do outro lado, que está a 145km
de distância, tendo apenas as ilhas do Pescado e Incahuasi no caminho. Tomamos
esta direção e aceleramos. Com o sal totalmente seco e abrasivo, uma linha
preta, deixada pelos pneus das pick-ups, mostrava a direção, era só acompanhar.
Logo a primeira ilha começou a emergir no horizonte, parecia próxima, mas não
chegava nunca.
Paramos na "praia" e fizemos um
pequeno tour na encosta, caminhando entre os cactos gigantes. Em seguida,
partimos para a próxima e mais visitada, a Ilha de Incahuasi. Antes de sair do salar, ainda visitamos o
Hotel de Sal, todo construído em pedras de sal, inclusive os móveis.
Vulcão Uturuncu:
De volta ao deserto, seguimos por Vila
Alota, para chegar nas lagunas Turquiri, Cañapa, Hedionda, Chiar Kota e Honda,
todas repletas de flamingos. Depois passamos a famosa Arbol de Piedra e
finalmente chegamos na Laguna Colorada.
Um caminho difícil, com muitas pedras no começo e areia na sequência,
recompensado pelo belo visual.
No frio da manhã visitamos a Laguna
Colorada. Os flamingos ainda encolhidos, refletidos na água vermelha e gelada,
davam um ar de tranquilidade e paz ao lugar. Na sequência, o geiser Sol de La
Mañana, que se diferencia dos demais por ter lama, ao invés de água borbulhando
nas fontes.
Quetena Chico foi a nossa base de apoio
para subir o Vulcão Uturuncu. Deixamos toda a bagagem no alojamento e partimos
rumo ao topo, ou até onde fosse possível chegar de moto. Um caminho difícil,
com muita pedra lascada e solta, marcaram o início da trilha. Acima dos 5.000m
de altitude, além do cascalho solto, típico dos vulcões, era preciso vencer a
forte inclinação do caminho. Só conseguimos devido a redução da transmissão, de
15 para 13 dentes no pinhão e a boa regulagem no carburador. Gases de enxofre
vertiam do chão, enquanto o caminho ia se tornando cada vez mais estreito, até
sumir na encosta.
Fim da linha, conferimos no GPS, 5.777m, o
nosso novo record de altitude. Para chegar ao cume, é preciso caminhar mais um
pouco, até os 6.010m. Mas já eram 4:00h da tarde, não teríamos tempo para isso,
apenas caminhamos até os 5.800m onde deixamos a placa "Uturuncu", com
muito orgulho.
A Volta:
Com os principais objetivos da nossa
"Expedição Tripartito" alcançados, iniciamos a volta para casa. Ainda
passamos pelas ruínas de San Antonio de Lipez, antiga cidade mineira e as
formações rochosas de El Sillar, próximo de Tupiza. Descemos para Tarija,
através da Cordilheira de Sama, onde definitivamente saímos da Cordilheira dos
Andes. Hora de voltar a regulagem do carburador, para a nossa realidade.
Entramos na Argentina por Bermejo, de onde
traçamos uma linha reta até o Brasil, através do Chaco. A Marisa, minha esposa,
já me esperava em Rio Negrinho, juntamente com mais amigos motociclistas. Dali
seguimos em comboio até Jaraguá do Sul, onde um churrasco já nos esperava no
sítio do Venera. Muitas histórias para contar, saudades para matar, amigos para
rever, o dia foi curto!!
Localização das placas:
Tunari: S
17° 14,622' - W 66° 23,917' ,
altitude 4.485m
Quimsa Cruz: S 16°
58,836' - W 67° 24,196' , altitude
5.152m
Illimani: S
16° 39,293' - W 67° 49,181' ,
altitude 4.362m
Real: S 16° 18,042' - W 68° 11,789' , altitude 4.972m
Apolobamba: S 14° 48,211' - W 69° 10,867', altitude 4.856m
La Rinconada: S 14°
42,387' - W 69° 26,183', altitude 4.794m
Vilcanota:
S 13° 54,147' - W 71° 00,413', altitude 4.900m
Amazonas:
S 15° 30,211' - W 71° 41,564', altitude 5.173m
Tripartito: S 17° 29,916' - W 69° 28,091', altitude 4.116m
Sajama (VMAS): S 18° 01'
27,4" - W 68° 57' 39,5", altitude 4.476m
Coipasa: S
19° 31' 14,8" - W 68° 22' 41,0", altitude 3.677m
Uturuncu: S
22° 15' 35,1" - W 67° 10' 50,1", altitude 5.793m
Participantes:
Rigon Albert Hoch, Joinville-SC
46 anos, empresário, Ténéré branca 1989
Orlando Venera, Jaraguá do Sul-SC
42 anos, empresário, Ténéré azul 1990
André Luiz Pereira, São José-SC
37 anos, empresário, Ténéré azul 2012
VIDEOS - EXPEDIÇÃO TRIPARTITO 2012
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